Sul do Brasil, ano de 1956. A passagem de um meteorito, aliado à veiculação de uma publicidade no rádio, desencadeou uma série de especulações e mal entendidos sobre o final do mundo, tais como ataque dos gafanhotos, noite sem fim, ataque das taturanas, um arco-íris beberrão que iria beber todas as águas dos rios, anúncio de um eclipse devastador, dilúvio, chuva de fogo, falsos profetas, e confusão linguística tal qual aconteceu na construção da Torre de babel. Nossa Senhora de Fátima, destronada de seu altar, substituída por outra imagem, também mandaria um castigo para aquele povo, que acreditava em tudo o que ouvia. A cegueira também seria um dos castigos, e muitos não hesitaram em colocar em prática ensaios de cegueira, o que deixaria com inveja o próprio José Saramago; os dois cegos que ali existiam, passaram a ser invejados por dominarem a escuridão, e muita gente queria com eles se parecer, usando bengalas, óculos escuros, invejando o uso até mesmo de um chapéu preto e desasado que se parecia com um urubu.
Com
os boatos, e mal entendidos, muita gente parou de trabalhar. Outros pararam de
pagar as dívidas que tinham com o comércio, pois queriam gozar os últimos dias
de vida que lhes restavam. Muita gente se suicidou deixando os familiares
mergulhados em profunda miséria e tristeza.
Durante
este tempo, o comércio que fora lesado no início da especulação, em virtude de
seus devedores não saldarem suas dívidas, finalmente reuniu-se e armou uma
grande e inteligente estratégia para se recuperar do calote em massa, pois até
então, parados, sem nada vender, estavam perdendo na inteligência até para a
dona do cabaré, que não hesitou em renovar o seu estoque para atrair uma
clientela que queria viver bem os últimos dias de sua vida, experimentando
prazeres até então nunca experimentados. Desta forma, o comércio, ao imitar a
dona do cabaré, passou a vender o que até então não havia vendido. Todo mundo
procurava, todo mundo comprava, todo mundo pagava em dinheiro vivo.
Assim
os comerciantes locupletaram-se com os acontecimentos, com os boatos, com os
mal entendidos, apesar dos padres e pastor, manifestarem repúdio e os
condenarem por estarem colocando mais lenha numa fogueira, onde os ingênuos e
inocentes eram os primeiros a se queimar.
Por
esta ocasião, revista O CRUZEIRO, O REPÓRTER ESSO, O ALMANAQUE DO PENSAMENTO, O
CORREIO SERRANO, A VOZ DA PROFECIA, e os sermões nas missas e nos cultos,
passaram a ser mal interpretados por seus ouvintes e leitores, causando grande
sensacionalismo. Tudo o que se lia na revista, no almanaque, no jornal, tudo o
que se ouvia nos noticiários radiofônicos e nos sermões, gerava confusão, era
mal entendido, era distorcido. E assim, a cada dia aquela fogueira
sensacionalista a respeito do fim do mundo, era alimentada pelos gravetos secos
da boataria.
Logo
que a notícia do fim do mundo passou a ser anunciada pelo rádio, a cartomante
Novercina, era consultada todos os dias. Queriam dela saber, se o mundo
realmente acabaria, ou não. Quem a procurou, por esta ocasião, saiu de seu
consultório decepcionado; nada mais via em suas cartas, do que algo relacionado
com o frio. Talvez uma chuva de granizo, um inverno tenebroso...na verdade, ela
estava certa no que dizia. Finalmente, num dia doze, as duas horas da tarde, o
rádio anunciou que o mundo acabaria; acabaria em gelo, com o lançamento da
geladeira F...
Nenhum comentário:
Postar um comentário